quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

POR: FLAVIO LEITÃO - DISCURSO - ARTHUR ENÉAS


Dr. Flávio Leitão - Secretário Geral da Academia Cearense de Medicina



03.12.14
Exmo Sr. Presidente da Academia Cearense de Medicina, em nome de quem saúdo toda esta colenda mesa,
Caríssimas Confreiras,
Prezados Confrades,
Distintas famílias dos homenageados desta tarde engalanada
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Em 1940, quando o mundo amargava timidamente os devaneios bélicos de um psicopata austríaco e político alemão que se divertia  no segundo consecutivo ano da segunda guerra mundial;  quando no Brasil o controverso Presidente Getúlio Vargas via entrar em vigor a Lei do Salário Mínimo que ele promulgara 4 anos antes e o novo Código Penal que persiste inalterado até hoje;  quando a música popular brasileira via Pixinguinha ter dificuldade em sustentar sua sonorosa flauta em virtude do degradante e destruidor vício do alcoolismo  e se via      obrigado a optar pelo saxofone porque lhe ficava preso ao pescoço;  quando na riquíssima e inigualável literatura brasileira o gaúcho Mário Quintana estreava com  “Rua dos Cataventos” e o médico e escritor mineiro, dentre outras virtudes, memorialista e historiador, Pedro Nava presenteou-nos com  “O Defunto”, afirmando na primeira estrofe :  Quando morto estiver meu corpo, / Evitem os inúteis disfarces, /Os disfarces com que os vivos,/ Só por piedade consigo, / Procuram apagar no Morto/ O grande castigo da Morte;  quando, por fim, a provinciana capital do Estado do Ceará tinha exatamente 180.185 almas e era gerida pelo prefeito Raimundo de Alencar Araripe, neste contexto sócio-político-histórico mundial, precisamente no dia 17 de janeiro enriquece-se a família do médico-radiologista Arthur Enéas Vieira  com o nascimento do seu segundo filho que sua esposa - Stela Leitão -, generosamente o presenteava, entre risos e dores.
O pai não se furtaria à justificada vaidade de batizá-lo com o seu próprio nome, já que não tivera esse desejo satisfeito, quando do nascimento de seu primogênito – Luciano -.
 Assim, nasceu para uma vida prazerosa e irradiante de feitos magnânimos o  nosso confrade – Arthur Enéas Vieira Filho -,  cujo panegírico faço agora a mando do ilustríssimo presidente desta Arcádia –  Árcade Vladimir Távora Fontoura Cruz.
A determinação do Presidente deveu-se, claro,  muito mais por saber da amizade que Arthur e eu nutríamos, do que por ver em mim qualidades de orador.
Arthur Enéas Vieira Filho realiza sua instrução pré-universitária em dois colégios cristãos o 7 de Setembro e o Cearense do Sagrado Coração.
Cumpre sua obrigação como cidadão brasileiro fazendo o Serviço Militar no antigo CPOR, no Corpo de Saúde do Hospital Militar de Fortaleza.
Obtém o diploma de médico, seguindo os passos do irmão mais velho – Luciano - e seria posteriormente  imitado na escolha da dignificante profissão hipocrática, pelo irmão que lhe sucede - Antonio Enéas -, bem como pela caçula – Tereza Maslowa -.
A obtenção do diploma da profissão de Esculápio se dá no ano de 1964,  o primeiro da ditadura castrense que permaneceria no poder por mais de vinte anos. Completaria este ano, cinquenta anos de formado!
Lutador, Arthur não se contenta com a aquisição deste galardão e procura engrandece-lo, burilando seus conhecimentos como Interno do Jackson Memorial Hospital da Miami University, na Flórida, posição que ascende por concurso.
Terminado o estafante Internato passa, igualmente por concurso, para a Residência de Radiologia, no mesmo hospital em que fizera o Internato, desta feita sob orientação do famoso e exigente Professor Philip Hodes, chegando a  ser Residente-Chefe do Departamento de Radiologia.
Em 1971, já casado com Cecilia Targino, volta aos EEUU,  dando vazão ao seu perfeccionismo profissional, realizando curso de Medicina Nuclear na National Naval Medical School em Bethesda – Maryland e Curso de Correlação Radiologia-Patologia, no Armed Forces Institute  of Pathology, Washington, D.C.
Ao final  de duas estadas nos EEUU recebe o honroso diploma  Physician’s Recognition Award, por educação médica ininterrupta.
De volta ao  Brasil, conquista, mais uma vez por concurso, o honroso título de especialista em radiologia pelo Colégio Brasileiro de Radiologia em provas escrita e oral e passa a ser Radiologista do Serviço de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, chegando a Chefe do Serviço de Radiologia do Hospital Universitário Walter Cantídeo (HUWC), onde lecionou por vários anos.
No decorrer de sua vida como radiologista frequentou dezenas de cursos de especialização na sua especialidade, proferiu incontáveis palestras tanto em congressos como em cursos de especialização para médicos residentes, esteve sempre rodeado por estudantes de medicina sequiosos em absorverem um pouco do extenso cabedal de conhecimento que dominava na especialidade de radiologia geral e que ele compartilhava com orgulho e a magnanimidade dos bons, com seus alunos.
Minhas senhoras, meus senhores! Ficou profundamente marcada em minh’alma o conselho que o poeta romano Públio Virgílio Marão deu a Dante quando, na segunda cornija do purgatório, a dos invejosos, vendo Dante aquela multidão de cegos com as pálpebras costuradas com arame e ansioso por contatar-lhes para saber o motivo de tão duras penas, ouviu de seu guia: “parla, e sie breve e arguto”.
Assim, justifico o pouco tempo da minha fala omitindo  a descrição de inúmeras virtudes do confrade Arthur Enéas Vieira Filho, próprias de alma nobre e generosa, deixando de enaltecer seu reconhecido  altruísmo e a grandeza de seu espírito, fazendo apenas pálida menção ao pai  extremoso, que recebeu das duas filhas Maria Inês e Stella a indescritível felicidade de possuir três netas e um neto, seus brinquedinhos vivos que o animaram por toda a vida, para não entediar este preclaro auditório, terminando aqui minha peroração com esta singela elegia.
Solicito-vos, contudo, permissão para despir-me do rígido ritualismo acadêmico para falar no tom da amizade e do coração com o colega de turma, companheiro de bancos da Faculdade por seis agradáveis anos.
Arthurzinho, o tempo não para e algum dia Átropos a parca inflexível, silenciosamente, visitará todos os teus pares, cortando-lhes o fio da vida, que fora tecido por suas duas irmãs, quando então teremos oportunidade de nos recongraçarmos.
Não precisaremos do barqueiro Caronte para atravessarmos o Estige, teremos seguramente a tua lhaneza de trato, a tua magnanimidade de espírito, a tua disponibilidade gratuita, o teu sorriso generoso, a tua alegria contagiante para nos guiar para mundo melhor, para nos apresentares ao verdadeiro Deus.
 E aí sim, teremos toda a eternidade para ouvirmos novamente tuas fantásticas histórias de nambús que se alvoroçavam no esplendor dos primeiros raios  das madrugadas quixeramobinenses, diante do tiro certeiro de tua espingarda.
Certamente não deixarás de comentar a produção de 50 litros diários do mais gostoso leite da vaca “Mimosa”, forte concorrente da Nestlé.
Dirás dos enormes peixes de mais de 50 quilos, pescados depois de renhida luta no plácido espelho dágua do silencioso açude da fazenda, com o teu molinete importado, rememorarás as fabulosas histórias que teus vaqueiros contavam nas noites prateadas pelo luar de agosto.
Histórias de ciúmes, de traição, de coragem inquebrantável, inverossímeis que tu gozavas em recontá-las. E, finalmente,  nos deliciaremos com a visão do teu riso maroto, concluído com uma gargalhada franca, encoberta parcialmente pelas mãos levadas ao rosto, aquela mão direita com uma flexão parcial do mínimo, lembrando a mão do pregador, da lesão do nervo ulnar, todas essas nuances denotando assim, a certeza de que sabías que  desconfiávamos mas que não deixavas ser uma das mais agradáveis companhias da turma de 1964.  Até algum dia, querido companheiro.

Um comentário:

  1. São discursos assim que nos deleitam nas memoráveis reuniões da Academia Cearense de Medicina. Parabéns ao Dr. Flavio Leitão, bem como ao homenageado, Dr. Artur Éneas. Ana Margarida

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