sábado, 4 de maio de 2019

POR: AC. JANEDSON BAIMA - MISSA DO 7º DIA DE MORTE DO DR. SÉGIO GOMES DE MATOS




Igreja Nossa Senhora de Lourdes - Fortaleza-CE

   
MISSA DO 7º DIA DE MORTE DO DR. SÉRGIO GOMES DE MATOS
PALAVRA DA ACADEMIA CEARENSE DE MEDICINA
“Nossos últimos dias, desde o mais próximo e pretérito dia 24, têm sido muito tristes para os que vivem nesta luminosa cidade de Matias Beck”
          Retirando os óculos (por não aderir às lentes progressivas) e com esse apontamento de dedo (não com a prepotência do dedo em riste, mas o dedo elegante de quem valoriza o que fala), provavelmente, essa teria sido a frase introdutória dessa homenagem póstuma, se neste microfone estivesse o Dr. Sérgio Gomes de Matos a manifestar-se a propósito do passamento de qualquer um de nós. Faço minhas as suas prováveis palavras.
          Boa noite a todos, se isso for possível. Estamos aqui, com pesar e honra, representando o Professo Djacir Gurgel de Figueiredo, Presidente da Academia Cearense de Medicina, assim como todo o corpo de acadêmicos da nossa arcádia.
          Desde que convocado para essa difícil missão, inquietei-me com a referência popular de que ao falarmos dos mortos criamos uma criatura imaginária, despida dos seus defeitos e vestida de falso virtuosismo. Então como eu faria se a memória do Dr. Sérgio não carece desse recurso? Será que minhas palavras soariam como falácias, sofismas?
          Certamente que não. Por vias das dúvidas, pensei uma estratégia, pois a coleção de virtudes do nosso querido Sérgio é tão grande que talvez parecesse mais verossímil aos menos avisados se eu a dividisse com o conjunto dos seus amigos.  Por isso, passei a anotar todas as manifestações que ouvia ou via, espontaneamente, sobre a sua pessoa, desde o momento da sua morte até o dia de hoje. Concordei com todas elas e ainda mais acrescentei. Suas dimensões humanísticas dispensam referências puramente acadêmicas ou curriculares já tão reconhecidas e alardeadas. Por isso, pontuarei seus caracteres relacionais, culturais, sociológicos e antropológicos.
·         Mentiram para mim. Desde que me chegou o outono da vida, recomendam-me para cuidar das amizades antigas, pois já não há tempo para novas e confiáveis amizades. O acadêmico Sérgio contrariou essa desdita. Ele foi o meu melhor amigo temporão. Aprendi a amá-lo como grande amigo desde 2011, quando da minha entrada na academia. Obrigado, Sérgio, pelo tempo que você investiu em mim. Confirmei com sua amizade a reflexão do Papa Francisco de que “Os amigos são sempre dons de Deus”.
          O conjunto das suas virtudes foi destacado por diversos amigos da sua maior ou menor convivência.
·         Desprendimento, Generosidade, Magnanimidade - Foram essas suas virtudes lembradas pelos acadêmicos João Evangelista e Flávio Leitão. Palavras do Dr. João Evangelista: “Se você estivesse em algum lugar do Sérgio (casa, consultório, biblioteca) e manifestasse admiração por algum objeto, livro ou qualquer item do ambiente, você não sairia sem levá-lo. Ele exigia que você o aceitasse”
·         Amizade - Ele pensava nos amigos mesmo quando distantes. Tudo que relacionava e interessava aos amigos ele captava e os presenteava como mimos (objetos, souvenirs, livros, matérias..). Não consegui ainda ler todos os livros sobre religião e espiritualidade que ele me doou, tantos foram eles nos últimos tempos. Restou-me o consolo de que, em todos eles, eu exigia a oferta com sua assinatura e leveza. Nesses dias, os li e reli todos os oferecimentos. O Sérgio cumpriu o Primeiro Mandamento da Lei de Deus amando o Pai por meio dos seus irmãos.
·         Humildade >>> (Cultura - Capacidades - Talentos) - Imensa memória, Vasto conhecimento, Parecia saber tudo de tudo > Sabedoria sem afetação > Conhecimento maior que a aparência > Ajudava o interlocutor sem constrangê-lo. O que mais me impressionava no Sérgio era a desproporção, rara de se ver, entre seus talentos e sua humildade. Viveu sem conhecer a soberba, a vaidade e a vanglória, apropriado aos grandes homens, às grandes almas.  
Acadêmico João Martins: destacou seu fino humor e sua capacidade de “sair à francesa”, como desta feita, saiu sem nos avisar.
Acadêmica Márcia Alcântara: chegou no Hospital de Messejana para aprender medicina com o Sérgio. Ele mostrou que isso era pouco. Ela precisava também estudar literatura. Sob sua égide, entusiasmou-se por Machado de Assis.
Acadêmico Eurípedes Chaves: o denominou “O Verdadeiro Varão de Plutarco”.
Professor e escritor Álder Teixeira (outro amigo temporão do Sérgio, forjado entre as estantes da Livraria Cultura): segundo o professor Álder, ali eles conversavam com a pilha de livros ao pé do sofá, como um cão de estimação.
Acadêmico Janedson: lembro com emoção de um episódio que nos aconteceu. Combinamos de redigir um documento da academia a quatro mãos. Então, eu fiz o rascunho preliminar e o apresentei. Ele leu pensativo e falou: “Está muito bom, mas você coloca vírgula demais”. Nunca imaginei que um dia eu voltaria a estudar o capítulo de pontuação, mas foi o que fiz. Que momento mágico foi aquele. Nunca mais colocarei vírgula em um texto, inclusive neste, sem lembrar do meu querido amigo.
Muitos outros se manifestaram: Drs. Djacir Figueiredo, Manassés Fonteles, Plínio Câmara (Professor/Mestre), Otho Leal (relação familiar), Eduilton Girão, Marcelo Gurgel, Lineu Jucá, Iran Rabelo, Ivan Moura Fé, Elias Boutala, Huyghes Parente, Salvio Pinto, Cesar Pontes, Augusto Guimarães, Vicente Leitão, Vladimir Távora e tantos outros.
·         Associativo, Participativo, Apaixonado, Plural, Conciliador - Incrível isso: Respeitávamos e apreciávamos suas generosas opiniões, até quando contrariava as nossas, quando entendíamos diverso. Quantas vezes revimos nossas sugestões ante a força, elegância e coerência dos seus argumentos!
·         Médico de corpo, mente e alma – Prática de medicina diferenciada:
Acadêmico Waldeney Rolim: é comovente o relato de como ele tratou e salvou a vida de uma parente do Dr. Waldeney, por mais de três meses de internamento hospitalar. Santa Medicina que ele praticava!
Acadêmico George Magalhães: destacou seu zelo pelo prontuário médico. Suas evoluções médicas apresentavam, além de irrepreensível detalhamento técnico, fortes traços de humanismo e erudição.



·         Pessoa insubstituível - Contrariando o dito popular, há pessoas insubstituíveis. Em troca de ideias com os Drs. Ricardo Pessoa e Ricardo Pereira, concluímos que faremos as funções que o Sérgio desempenhava mas, jamais, com a sua majestade.
·         Forte - Luminoso - Preenchia o ambiente que ocupava - Sempre aguardado - Parecia Eterno > AGORA O É!
·         Colaboração da Dona Verônica (secretária executiva da ACM): 
Entre prantos, ela me confidenciou: “Doutor, nunca sabemos quando nos vemos pela última vez. Jamais imaginei que, quarta-feira passada, seria a última vez que veria o Dr. Sérgio entrar por aquela porta”. Não permitamos que a perda do Sérgio seja em vão. Aprendamos mais essa lição. Amemo-nos e demonstremos o nosso carinho uns pelos outros. Como nos ensina o Apóstolo Paulo, aliviemo-nos mutuamente, ajudando a carregar os pesos e fardos uns dos outros. Não neguemos nossos abraços, beijos, afagos e sinceros elogios com os demais.
·         Colaboração final
No velório, ao lado do caixão de repouso do Sérgio, ouvi do Dr. João Brito, meu colega de turma: “Janedson, parece que Ele, ultimamente, tem escolhido e levado os melhores, mesmo ainda tão novos”. Não me contive e expus minha pretenciosa tese de conquista do céu: por acreditar que viemos a esse mundo para preparar a vida eterna, os muito bons – como foi o Sérgio – precisam de menos tempo para essa conquista. Será?
Finalizando (para a família):
·         O Sérgio fez sua páscoa em tempo pascal, tempo de passagem, de mudanças, quando tentamos matar nosso “homem velho” para surgir o “homem novo”. No Evangelho de São João (3,3), Jesus Cristo recomenda ao incrédulo Nicodemos que “você deve nascer de novo”. Pois bem, isso se aplica a todos nós, por que não também ao Sérgio? Ele nasceu de novo, só que para o “homem espiritual”, “para o Reino de Deus”.
·         O que assusta não é essa morte física, corporal. O pavor se reserva à morte eterna. O acadêmico Dr. Sérgio Gomes de Matos, ao contrário, ganhou a vida eterna!

Ac. Janedson Baima Bezerra

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