terça-feira, 29 de setembro de 2020

DISCURSO DE POSSE DO CONFRADE PEDRO HENRIQUE SARAIVA LEÃO - PRESIDÊNCIA DA ACM - 08/07/2020

 


Discurso do Acadêmico Pedro Henrique Saraiva Leão ao assumir a presidência da Academia Cearense de Medicina. Fortaleza, 08/ 07/2020 

                 À memória do Acadêmico Sérgio Gomes de Matos 

            O poeta cearense, sonoroso sonetista Otacílio Colares (+1988) declarou: 

                   “Amigos, valham os bons como os vinhos raros”. 

                     Nesta quarentona (12/05/1978) Academia, tenho alguns, por sem dúvida, boníssimos amigos, “erstklassig”! A estes dedico fiel e crescente “vladimiração”. 
             O próprio Vladimir Távora Fontoura Cruz – sol desta Casa - “plus” José Iran dos Santos, José Wilson Accioly, Manassés Claudino Fonteles, João Evangelista Bezerra Filho, João Martins de Souza Torres, Sebastião Diógenes Pinheiro. Outros tive, já convocados para um “recall” nas oficinas do Senhor. 
          Orgulhoso, reconhecido, cito seus nomes: Antero Coelho Neto, Hélio Cirino Bessa, José de Aguiar Ramos, Sérgio Gomes de Matos. Pois. Graças a estes, e àqueles, subo hoje a este palco, inaugurando-me como presidente da Academia Cearense de Medicina. 
         Ao longo de minha vida, tenho sido gerúndio: amando, estando, contribu/indo, ou/vindo; ultimando-me, enfim. 
           Tendo presidido a Academia Cearense de Letras (2009-2012), aporto agora neste porto, festinalentando. 
        Fio que este subido colegiado não seria apenas qual íntimo fórum científico, tão somente um claustro para perquirições médicas, mas, idealmente, uma vera ouvidoria consultiva em medicina, posto avançado e acessível, de reconhecida utilidade para o público, que só nos vê de longe. 
         Vale aqui ressaltado ser nosso ideal assessorar a prátrica de uma Medicina qua, restringindo-se nosso único compromisso com a Ciência, e a Ética, estes os verdadeiros lares e penates desta instituição. 
       Estaremos, assim, infensos a quaisquer vírus político – partidários intervenientes. 
            Esta associação de facultativos melhor serviria à comunidade, integrando realmente os conselhos de saúde, franqueando-lhes sua experiência. 
         Temos em verdade, ser tal concurso uma contrapartida nossa, modesta embora indenização, contribuída por médicos formados as expensas do erário público. Sobre resgatar nossa responsabilidade, estaremos exercendo um ofício misto de ouvidoria e “rondonização”.
       Estará, assim, ratificada nossa existência, de par com os regulares encontros profissionais semanais. Na nossa agenda figuram igualmente reuniões com a Academia Cearense de Letras. Afinal, Medicina e Literatura são gêmeas siamesas. 
        Vale salientada a mais recente (2019) de nossas reuniões bienais, desde 1966. Frutos da mesma – sob a inspiração dos Acadêmicos Iran Rabelo e Eduilton Girão – resultou a “Carta de Fortaleza”, normativa para prescrições médicas, e foi elaborado um breviário acerca de Arboviroses (dengue, zika, chikungunha), palindrômicos inimigos nossos. Evidencia-se, destarte, a atávica vocação pedagógica desta instituição. Como a atividade docente é uma das prioridades nossas, recorde-se que o Acadêmico Paulo de Melo Machado, um dos seus fundadores, em discurso inaugural (1978) profetizou ter esta entidade instalado “o verdadeiro Renascimento da Medicina no Ceará”. 
         E assim vem sendo! 
        Apraz-me, por igual, informar a celebração de nossas sessões remêmoras, outra ideia felicíssima do acadêmico Vladimir Távora, indefésso guardião dessa agremiação. Nessas, reuniões, reverenciamos nossos mortos, bem como aqueles ’ inda vivos, enquanto secularizados. Como diria o percuciente novelista anglo-norte-americano Henry James (+1916), tais encontros, representariam um piedoso “exercício de sentimentalização”! Aliás, repetindo Vinícius de Moraes, “Para isto fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados”. 
      Morando ainda aqui, afortunados hóspedes da Universidade Federal do Ceará, padecemos daquele sonho dos brasileiros, daquela sêde de alma, sêde da sede própria. Contudo, nossas circunstâncias econômico – financeiras há muito nos lembram Pedro Calderón de la Barca (+1651), dramaturgo e poeta espanhol: 
         “... toda la vida es sueño, 
        y los sueños sueños son”. 
        Contudo, respeito a esta irmandade médica, equivocara-se o vate madrileno. Eis senão quando meu ex-aluno da Faculdade de Medicina da UFC, atual denodado prefeito municipal, Dr. Roberto Cláudio Bezerra, nos materializou tal desiderato. Louvemos aqui o empenho do Acadêmico César Pontes. 
          Destarte viceja este grêmio singular, inspirando-se no passado, para melhor absorver o presente, robustecendo-se para o futuro. Aguardemos, apercebidos, o “admirável mundo novo”, previsto por Aldous Huxley, em 1932, com as revoluções bio e nanotecnológicas, os respirócitos, a robótica, a reversine, e os “cyborgs” – homens/máquinas. 
            Gentis consósores, prezados confrades: 
            É sempre mais tarde do que se pensa, e estas são premonições já para 2045, consoante porvirólogos, como Ray Kurzweil. 
            Orando para que Deus não nos abandone, caminhemos com pés firmes, nestes tempos enascentes, neste movediço chão. 
               Muito obrigado.

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