domingo, 29 de maio de 2022

DISCURSO DE POSSE PRESIDENTE DA ACM - JANEDSON BAIMA

 


                                            POSSE PRESIDÊNCIA ACM

DISCURSO - 20/05/2022

“Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu.” Romanos 12:3

 Ilustríssimo Sr. Professor Doutor e Confrade Vicente de Paulo Leitão de Carvalho, Presidente do Conselho Consultivo da Academia Cearense de Medicina e Presidente dessa Mesa Diretora, em nome de quem eu saúdo e abraço todos os demais membros da mesma;

Digníssimos Confrades e Confreiras, seus cônjuges e familiares;

Saudação especial aos familiares e amigos dos 5 inesquecíveis próceres que perdemos para o plano superior, nos últimos tempos: Confrade Sérgio Gomes de Matos, Confreira Lize Mary, Confrade Pedro Henrique Saraiva Leão, Confrade Roberto Misici e Confrade José Iran de Carvalho Rabelo. Vocês todos cabem na largueza do coração da nossa Academia. Cabem, também, na estreiteza do meu coração, as memórias e os espíritos do meus inesquecíveis pais, José Bezerra e Maria Augusta, assim como, minha amada mulher Joyce, meus queridos filhos Diego, Igor e Janedson Filho, minha nora Karina e a mais nova atração da família, nossa netinha Ísis. Amicíssimos colegas, amigos, autoridades, representantes e convidados presentes. Senhoras e senhores.

BOA NOITE!

Havia um vazio no seio da classe médica cearense, quando um iluminado grupo de colegas imaginou e inaugurou a Academia Cearense de Medicina, em 1978, preenchendo a lacuna citada. Neste último dia 12 de maio, nossa Arcádia completou 44 anos, com um histórico de profícuas atividades. Numerosos colegas participaram da caminhada vitoriosa dessa quarentona, sempre regidos por destemidos Presidentes que, a cada dois anos, se sucedem sob a unânime benevolência dos pares. Por justiça, os rememoro, em sequência cronológica: Doutores José Waldemar de Alcântara e Silva, Walter de Moura Cantídio, Joaquim Eduardo Alencar, Geraldo Wilson da Silveira Gonçalves, José Borges de Sales, Washington Carneiro Baratta Monteiro, José Vieira de Magalhães, Jorge Romcy, Raimundo Hélio Cirino Bessa, Aprígio Mendes Filho, José Wilson Accioly, José Edísio da Silva Tavares, Francisco das Chagas Oliveira, Vicente de Paulo Leitão de Carvalho, Paulo Eduardo Garcia Picanço, Antero Coelho Neto, João Pompeu Lopes Randal, Vladimir Távora Fontoura Cruz, Manassés Claudino Fonteles, Djacir Gurgel Figueirêdo e Pedro Henrique Saraiva Leão.

Pela majestade científica e profissional dos nomes elencados, os senhores e senhoras podem fazer ideia da magnitude da tarefa e quefazeres a mim reservados, nos próximos dois anos. Serei o servo principal da 23ª gestão da nossa academia, sucedendo vários dos meus magnânimos mestres. Sem embargo, sou carente de temor, fausto em destemor. Deverei ser um gestor de comportamento viril, sem temores e sem egoísmo. Procurarei ser um bom hortelão do jardim acadêmico. Não por engenho ou mérito pessoal, mas pela Providência que acredito a mim reservada (em tudo!). Além da cabal colaboração dos meus atuais pares e o aprendizado adquirido junto àqueles citados, em tudo não passo de instrumento – mesmo sem merecimento – na consecução dos planos superiores, entre nós inferiores. Por isso, nenhuma honra me cabe. Tudo aos Altos! Avaliase o bom soldado de cavalaria no campo de batalha.

Acredito que nem todos os presentes saibam que a Academia Cearense de Medicina se sustenta em três colunas estratégicas: Ciência, Ética e História (enquanto cultura). Quão árduos esforços temos despendido para sustentá-las! Desde o final do século XVIII, em particular nos últimos 100 anos, elas têm sido sacolejadas, intermitentemente, no mundo inteiro, até nos atingir, cá, abaixo da Linha do Equador.

A Ciência alterna tempos gloriosos com fases cadentes, em toda sua trajetória. Aqueles predominam quando trabalhada a favor da humanidade, da vida. As últimas, cada vez mais recorrentes, ao contemplar interesses espúrios e marginais, aversos à dignidade humana. Nossa Ciência Médica, coitada, salvo ilhas e tempos de exceção, caminha trôpega, ébria, quando não, genuflexa, como testemunhamos em recente pandemia. Temos permitido que, em torno dos cuidados com a doença e, principalmente, com a saúde, assentem-se vendilhões e barganhistas inescrupulosos, cujo único interesse é o lucro financeiro e/ou político. Nossa infraestrutura de assistência e ensino médicos está sendo apoderada por corporações muito ricas, frequentemente, com a anuência e cabala de alguns “fazedores de medicina”.

 Quantos solavancos tem sofrido a coluna da Ética, em todas as relações humanas! Parece que o Daimon do Ethos – anjo bom, benfazejo e protetor, voz profética interior – de Platão em Apologia de Sócrates, nos abandonou, deixando nossa morada interior inabitável. Nossa casa interior e mais íntima já não nos pertence, foi invadida por comportamentos nefastos trazidos, desde nossa pré-história, e agravados por rebentos bárbaros da modernidade e facínoras da pós modernidade. Quando buscamos uma definição coerente de Ética, elegemos a que nos ensina a contemplar as virtudes como único meio de fazer justiça e trazer felicidade e esperança a nós e aos outros, tudo em um só tempo. Eis o cerne do problema, descuidamo-nos demasiado das virtudes humanas, devido à nossa raiz de egoísmo e delicadezas egocêntricas. Chegamos a observar, por vezes, ora vejam, comportamentos éticos mais virtuosos entre seres subhumanos a nós aparentados.

Na minha peroração de acolhimento dos confrades Paulo Leitão e Ricardo Pereira ao nosso sodalício, em setembro de 2017, os alertei, embora de forma desnecessária, que as academias, assim como outras instituições laicais, costumam ser uma grande ameaça à salvação das nossas almas. As academias de medicina precisam combater, com ações e testemunhos, as desordens de atitudes dos homens que nutrem um exagerado apego a si mesmos, às pessoas e aos bens materiais. É impossível coadunar os princípios éticos e morais com a vanglória, a vaidade, a soberba e a ambição desmedida. Quanta ciência, quantos títulos e currículos profissionais brilhantes são deslustrados pelo orgulho e amor-próprio! A ciência não foi criada para os cientistas, mas para a humanidade, assim como a ciência médica não foi criada para os médicos, mas para os doentes. Hasteemos o lábaro da humildade, sem pusilanimidade e com magnanimidade, pois os conhecimentos não nos pertencem, apenas nos estão emprestados para o bom cumprimento da nossa terrena e fugaz missão.

Por fim, a coluna da História, tão chacoalhada por parte dos historiadores enviesados por ideologias, interesses promíscuos e terroristas da verdade. A verdade sempre foi a maior vítima desses maus historiadores. Eles conseguem comprometer o muito do belo e virtuoso da história humana. Em tempos antigos, o papiro, o pergaminho e o velino foram menos açoitados por penas inclementes. Sem embargo, depois da notável invenção da Imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg, no século XV, o papel, inventado pelos chineses e aperfeiçoado pelos árabes, passou a receber de tudo, a ser acariciado pela verdade e talento dos bons – na maioria das vezes, felizmente – mas, também, martirizado por vulgaridades e pulhas ignominiosas. Até a magnífica cosmovisão do Renascimento, inaugurando a Idade Moderna, no século XVI, foi em parte comprometida e contaminada, até a Idade Contemporânea que ora vivemos, por uma perseguição abjeta e injusta aos insignes 1.000 anos da Idade Média, assim como pela imposição do Sofisma de Protágoras, de que “o homem é a medida de todas as coisas”, alardeando que tudo é relativo e que não existe uma verdade absoluta. Infelizmente, a história científica não passa ao largo desses percalços. Eu gostaria de viver, por exemplo, para ver como a história da recente pandemia será historiada e historiografada.

Antes que eu possa parecer cético – e não sou, por acreditar em uma Verdade Absoluta – permitam-me propor para a nossa Arcádia uma quarta coluna, que funcionará como uma viga de sustentação das três colunas, nas suas vulnerabilidades. Nossa quarta coluna/viga atende pelo nome de Amizade Caridosa e Fraterna. Por ser a viga-mestra, ela harmonizará os discordantes, reunirá e apascentará os separados, aliviará o peso dos fardos individuais e enriquecerá os pobres de virtude. Não obstante, teremos que pagar o preço de despir-nos dos homens-deuses que nos habitam e nos tentam, a todo momento, com a promessa de glória, honrarias, riquezas e desordens da inteligência e da vontade. As sandálias das nossas divisões bestiais deverão ser descalçadas na porta de entrada da nossa Confraria. Não toleraremos arengas por nossas saudáveis diferenças, quer sejam políticas, religiosas ou ideológicas, mas, ao contrário, as harmonizaremos pela seiva da Sincera Amizade. Cuidemo-nos pelo ensinamento de Chesterton:

“Jesus Cristo nos pede para amar o inimigo, não somente os amigos, porque, geralmente, são as mesmas pessoas”.

Convoco todos os confrades e confreiras, professores e mestres de várias gerações de médicos – por isso, referência para os mais jovens – a serem propugnáculos das nossas sagradas colunas. Cuidemos da Ciência Médica inaugurada por Hipócrates, iniciada para a eterna modernidade por William Osler e humanizada por personagens como a colega americana Raquel Naomi Remen, defensora de que “...apesar da imprescindível boa formação técnica, com frequência, servimos mais por meio do que somos do que daquilo que sabemos”. Não arredemos dos Princípios Éticos balizados pela moral e consciência, verdadeiros cães de guarda do nosso comportamento. Para que, finalmente, possamos escrever nossa História, fazendo brilhar no nosso peito a pedra preciosa da Justiça, conduzindo às mãos, a espada de dois gumes da Verdade e saboreando o ápice da loucura da Liberdade, em todas as suas nuances.

Anseio que nosso Sodalício seja um templo de gáudio, bemaventuranças e regozijo. Que nossa convivência seja marcada pela alegria e deleite de fraternos irmãos! Que nossa nau possa singrar por este tempestuoso mundo pelas mãos dos remadores acadêmicos, crentes que o leme acolhe um comando superior. Desfraldemos a vela da caridade, que nos conduzirá ao porto da salvação, ao sabor do vento do desejo santo. Toda nossa Academia, do mais simples funcionário ao mais honorável membro, tenha-me como vosso servo, quase escravo, destinado ao cumprimento de uma missão que terá como fulcro a reabilitação e valorização da dignidade humana, que, como nos ensina Santa Catarina de Sena, “nenhuma língua será capaz de descrever, nem olho de ver ou coração para perceber, em toda sua extensão”.

Finalmente, procurarei ser fiel imitador de Paulo, que se tornou o pequeno, após a queda do cavalo branco de Saulo, que se pensava grande, iluminado pela divina e redentora Luz. Nenhuma honraria, prestígio desordenado ou aplausos dos homens mais notáveis me embevecem, nem me impedirá da busca incessante e quase impossível de alcançar a coroa da vida eterna. Prometo cuidar da nossa Arcádia, nos próximos dois anos, com garra semelhante à guerreira Santa Joana D’Arc, isto é, “esperando tudo de Deus, como se eu não pudesse fazer nada sozinho; e esperando tudo de mim mesmo, como se Deus não existisse”. Que Nossa Senhora nos recomende ao Coração de Jesus pelas nossas ações!

 Muito obrigado!

Janedson Baima Bezerra

Cadeira No. 60 - ACM



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