terça-feira, 4 de julho de 2023

SOLENIDADE DE POSSE NA ACM -30.06.2023 - José Lima de Carvalho Rocha/ Paulo Marcos Lopes/Lino Antônio Cavalcante

 Membros Titulares:

- Acad. José Lima de Carvalho Rocha 

- Acad. Paulo Marcos Lopes 

Membro Titular Honorável:

- Acad. Lino Antônio Cavalcante Holanda  

                   SESSÃO SOLENE DE POSSE ACM - 30/06/23

          Nós somos a Academia Cearense de Medicina, donzela de 45 anos, sobrevivente do mundo confuso e distópico que hora vivemos. Como todos vocês e onde estejamos, debatemo-nos, com pouca eficácia, numa sociedade pérfida e escrava da vaidade, mentira e injustiça. Nesta nave acadêmica, procuramos apontar nossa roda do leme na direção do que é digno, justo e verdadeiro. Não me perguntem se conseguimos tamanha proeza. Não saberei responder. Talvez saibamos, se merecermos, quando chegarmos ao Paraíso, à morada eterna que nos foi prometida.

          Não distribuímos selo de qualidade ou proficiência. Ao contrário das embalagens de leite que mentem ao se denominarem sem lactose, sob o beneplácito da Anvisa; das prescrições midiáticas “milagrosas”, à revelia das nossa entidades médico-profissionais; dos estudos de Harvard que vinculam dinheiro à felicidade; dos estudos vendidos de Oxford sobre violência entre os jovens; das pesquisas laboratoriais maquiadas, enviesadas e divulgadas em periódicos internacionais, antes críveis; e dos cotidianos assassinatos de Deus e tantas outras aberrações que nos sufocam...

          Pois bem, nossa Arcádia, ao contrário disso, como eu dizia, se empenha, primariamente, em reconhecer e honrar as trajetórias de uma expressiva plêiade de profissionais da medicina cearense, que tanto se empenha em exercitar a bondade, a caridade e a boa ciência a favor da nossa sociedade. É para isso que estamos aqui. Hoje, nosso Sodalício se rejubila ao receber, no seu Corpo de Acadêmicos, os Doutores Recipiendários José Lima de Carvalho Rocha e Paulo Marcos Lopes, como os mais novos Membros Titulares e o confrade Lino Antônio Cavalcante Holanda, ascendendo a estatura de Membro Titular Honorável.

          Sejam, todos vocês, muito benvindos à nossa casa! Que nessa fração de noite, ela represente, outrossim, a casa de todos os presentes!

Janedson Baima Bezerra

Presidente da ACM

Foto oficial da Posse
Mestre de Cerimônia - Acad. Vladimir Távora 
Presidente da ACM - Acad. Janedson Baima - Palavra de Abertura 

Acada. Helena Pitombeira - Leitura da Profissão de Fé

Acad. João Martins Sousa Torres saudando Acad. Lino Holanda

Acad. Lino Antônio Cavalcante Holanda
Acad. Henrique Leal saudando acad. José Lima
Acad. José Lima


Acad. Paulo Marcos
































Discurso de Posse na ACM

Acad. José Lima de Carvalho Rocha

             A aceitação de participar da Academia Cearense de Medicina - ACM é para mim motivo de muito orgulho. Ingressar nesta academia não estava no meu plano de vida, pois entendia como objetivo inalcançável.

Sou natural de Fortaleza. Nasci em 1956.

Cursei toda a educação básica no Colégio Christus, escola fundada em 1951 pelos meus pais, Roberto de Carvalho Rocha e Maria Lúcia Lima de Carvalho Rocha. Com eles, aprendi a rezar, trabalhar e valorizar a educação.

Ao concluir o ensino médio em 1974, ingressei no curso médico da UFC, concluindo em 1980, com 24 anos.

Não pensava em futura profissão durante o período colegial, mas já gostava de procurar entender as pessoas. Gostava de ajudar pessoas, dentro das possibilidades.

Entre as várias opções profissionais disponíveis, a medicina atendia bem aos meus sonhos.

Não sabia muito bem como era a vida do profissional médico, pois não possuía, naqueles anos, qualquer parente médico.

Posteriormente, foi-me oferecida a oportunidade de conversar com um médico, mas recusei, pois, depois de estudar as demais profissões, eu já havia decidido pela medicina.

Quanto mais eu estudava e vivenciava a ciência médica, mais eu gostava dela. Os desafios eram estimulantes. O vasto mundo médico mostrava, aos poucos, suas possibilidades.

Desenhei para mim a trilha acadêmica. Cursei todas as disciplinas que eram oferecidas no semestre. Apesar da minha limitada visão estudantil, foi possível distinguir duas categorias de conhecimentos médicos: os básicos e os aplicados. Entendia que o bom profissional necessita “saber por que faz “ como também “saber fazer”. Já no início da graduação, fiz concurso e fui monitor de Biofísica Médica durante vários anos no departamento de Fisiologia e Farmacologia.

Com a ajuda de meu amigo Dr. Marco Antônio Nasser Aguiar, fui aceito como aprendiz do Dr. Vitoriano Antunes Barbosa, ao qual era e serei sempre agradecido.

Aprendi muito.

Os fundamentos e os porquês eu aprendia nos experimentos do departamento de Fisiologia. A prática médica eu desenvolvia com o Dr. Vitoriano, isto até o 6º ano.

Ainda no 4º ano, fui convidado pelo Dr. Sizenando Ernesto de Lima Junior a participar da equipe do Dr. Lacerda Machado, que realizava transplantes renais experimentais em cães. Chegamos a operar 98 animais.

Assim foi minha vida estudantil, do 2º ao 6º ano.

Durante a segunda metade da década de 1970, existiram muitas paralisações no curso médico, decorrentes de protestos contra os governantes não eleitos pela população.

Foi possível, desse modo, vivenciar minha trilha, meu currículo paralelo, pois os momentos de aprendizagem curricular não existiam durante as paralisações e sobrava o tempo. Foi a minha interpretação para a frase “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

No início de 1981, realizei concurso com o objetivo de lecionar Biofísica no curso de Medicina. Já docente, iniciei o mestrado em Farmacologia. O Prof. Henrique Leal Cardoso aceitou ser meu orientador. Por meio de concurso, também fui aceito na residência em cirurgia do Hospital Universitário da UFC.

Com a necessidade de ajudar na escola fundada pelos meus pais e a ciência de que não seria possível realizar muitas atividades profissionais simultaneamente, optei pela docência.

Na segunda metade da década de 1980, o envolvimento com a escola aumentou muito. Nesse momento, precisei optar novamente. Mais uma vez, com muita dor. Pedi meu desligamento da UFC.

Entendi que o meu desligamento também teria como consequência o afastamento da prática médica com a qual eu sonhava. Nasceu, nesse momento, outro sonho: construir um curso de Medicina.

Depois de muita dedicação individual e coletiva, o curso iniciou suas atividades em 2006.

No ano de 2008, retornei a ser estudante da UFC, agora no mestrado e doutorado, no departamento de cirurgia. Agradeço aqui ao Dr. José Dias Leite, pela paciência e pelos ensinamentos.

Em 2022, com o apoio dos médicos e amigos Walter Miranda e Luiz Moura, ingressei na Associação Cearense de Médicos Escritores (ACEMES).

Com o apoio do meu Amigo Dr. Arruda Bastos, fui aceito na Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).

Em toda a minha vida profissional e estudantil, tive a ajuda de profissionais que, além do vasto conhecimento médico, apresentaram-me a ética médica na teoria e na prática. Sem esses gigantes que me ofereceram os ombros, eu não estaria hoje com vocês.

Agradeço a minha esposa Valeria, a meus filhos Priscila e Murilo por suportar e incentivar a caminhada.

Considerando que o Estatuto e Regimento Geral da Academia Cearense de Medicina, reformado em 2012, tem, em seu artigo 2º letra C, a finalidade “Apresentar sugestões, solicitar providências e colaborar com as autoridades competentes, em prol da educação médica e da promoção da Saúde “, encontrei, na educação médica, minha principal área de contribuição à Academia Cearense de Medicina.

Com muita honra e felicidade, ocuparei a cadeira 42ª que tem como patrono José Carlos Ribeiro e como último ocupante Pedro Mauro Rôla de Souza.

 

Discurso de Posse na ACM

Acad. Paulo Marcos Lopes

Boa noite a todos!

Cumprimento a todos da mesa em nome do presidente, Dr. Janedson Baima Bezerra.

Estendo os meus cumprimentos a todos os presentes, em especial aos acadêmicos que compõem a Academia Cearense de Medicina e ao Dr. José Lima de Carvalho Rocha, com quem tenho a honra de compartilhar a cerimônia de posse também como titular deste sodalício.

Gostaria de citar o nome de todos aqui presentes, mas para não cometer o engano de esquecer alguém, sintam-se respeitosamente citados.

Entretanto não posso deixar de mencionar a minha esposa Eliane, companheira de todos os momentos, a mais de 40 anos, minha incentivadora que tolerou e compreendeu os meus exageros profissionais, que não foram poucos, o meu querido filho Gustavo e sua esposa Ana Luiza, a minha querida filha Lívia e seu esposo Tiago, a nossa princesa Giovana e o nosso principezinho Davi.

Também eu jamais esqueceria duas pessoas, meu pai e minha mãe que se estivessem, fisicamente aqui entre nós, seriam as pessoas mais felizes do mundo.

Este é um daqueles dias difíceis de esquecer. É com este sentimento indescritível que passo a ocupar a cadeira Nº 9, como titular da Academia Cearense de Medicina, que tem como Patrono o Dr. Eliezer Studart da Fonseca, nascido, em Fortaleza, em 29 de outubro de 1884.

Graduado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1910. Após dois anos de aperfeiçoamento na França, retornou a Fortaleza, em 1912, onde exerceu a profissão como cirurgião com dignidade e devoção.

Foi um dos fundadores do Centro Médico Cearense e do Instituto do Ensino Médico  (precursor da Faculdade de Medicina).

     Não por acaso, mas em razão das suas virtudes não foi difícil a tarefa da escolha do seu nome como um dos patronos desse sodalício.

   O primeiro titular desta cadeira Nº 9, não menos virtuoso e com méritos reconhecidos, foi o Dr. José Osvaldo Soares, nascido em Santana do Acaraú, em 1907. Graduou-se pela Faculdade de medicina do Rio de Janeiro, em 1931. Pioneiro da urologia do Ceará, criador do serviço de urologia da Santa casa de Misericórdia que liderou, por mais de 50 anos, e ainda hoje, o maior serviço de urologia do Ceará. Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), e que Tive o privilégio de ser seu aluno e de conviver com ele, nos corredores e enfermarias da Santa casa.

Até poucos dias, a cadeira Nº 9 dessa Arcádia estava ocupada pelo grande médico cirurgião Dr. Lino Antônio Cavalcante Holanda, que acaba de ser empossado como membro honorário e que foi saudado pelo Dr. João Martins.

Eu mesmo fico surpreso, ás vezes, com o que a vida me proporciona. Substituir o Dr. Lino em uma cadeira, na Academia Cearense de medicina é uma grata e grande surpresa que só o destino é capaz de explicar.

O Dr. Lino foi professor da minha esposa Eliane e não a tratava como aluna, mas como filha, o Dr. Lino foi meu professor, no último ano da Faculdade e não me tratava como aluno, mas como filho, foi meu preceptor na residência de cirurgia e não me tratava como residente e sim como filho, depois foi chefe do serviço de cirurgia e continuou me tratando como filho, ainda hoje continua me tratando de forma paternal. A minha relação com o Dr. Lino é, portanto, uma relação filial. Ao senhor Dr. Lino o meu respeito e o meu reconhecimento.

Eu gostaria de citar duas pessoas, ilustres representantes dessa Academia, que tiveram participação direta e determinante na minha vida: Dr. João Martins e Dr. João Evangelista cuja relação não difere da relação que tive com o Dr. Lino.

 Eu conheci o Dr. João Martins, no último ano da Faculdade de Medicina (no internato), depois como preceptor da residência médica, depois como Chefe do Serviço de Cirurgia, depois como diretor do Hospital. Diziam os meus contemporâneos que o Dr. João Martins me tratava de forma diferente. Mas eu estou me referindo ao senhor não é porque o senhor me tratava diferente, mas pela influência que o senhor sempre exerceu na minha vida profissional e de médico.

Ao senhor Dr. João Martins o meu respeito, o meu reconhecimento e a minha gratidão.

 Quando eu terminei a Residência de Cirurgia, formei uma equipe de brilhantes cirurgiões e eu era o único da equipe que não reluzia. Eles diziam que eu só queria imitar o Dr. João Evangelista e quando a cirurgia era mais complexa, eles diziam: ¨Hoje é que ele vai mesmo querer imitar o Dr. João Evangelista!¨. Eu desisti, Dr. João, não porque eu não quisesse imitar o senhor, não porque eles diziam que eu queria imitar o senhor, mas eu desisti porque eu não consegui. Então, eu tive que me recolher a minha própria insignificância com certo grau de frustração.  

Quanto a mim, fico com a grande honra e o privilégio de ser membro titular da Academia Cearense de Medicina esta tão nobre e irrepreensível Instituição.

Fico com a honra de estar entre meus mestres, meus professores que me ensinaram e inspiraram e que literalmente me trouxeram até aqui.

Fico com a honra de estar entre médicos ilustres e notáveis que construíram e fazem a medicina do Ceará.

Fico com a honra de estar entre médicos brilhantes da Medicina no Ceará e do Brasil, como por exemplo, a Dra. Helena Pitombeira que, no mês de maio próximo passado, foi escolhida como membro da Academia Nacional de Medicina. À senhora Dra. Helena, o nosso reconhecimento.

O brilhantismo é a regra desta Arcádia e eu estou, aqui chegando, talvez para confirmar e para ser à exceção da regra.

Agradeço a presença de todos e a paciência de terem ouvido um orador sem a mínima habilidade no trato com as palavras. Se nessas palavras demonstrei qualquer traço de imodéstia, não foi por propósito, mas por falta dessa habilidade.

Peço desculpas, se abusei do tempo, se o fiz foi porque não tive tempo de prestar atenção no tempo.

Mas já termino dizendo: “Aquilo que se constrói com idéias fortes de homens sérios, com seriedade de propósitos sem qualquer interesse menor de promoção pessoal e ainda mais com o ideário da defesa e do exercício da cultura, da ciência e da ética deve ser cultuado e eternizado”

SALVE A ACADEMIA CEARENSE DE MEDICINA!!

Obrigado a todos!!