Ac. Flávio Leitão
Radicalização
Por: Ac. Flávio Leitão
Nesses tempos de Pandemia, uma angústia enorme,
minha alma asfixia.
Já disse alhures, que tive a invejável sorte
de conviver com um santo – um ex-seminarista, Filho de Maria, Irmão do
Santíssimo e Ministro Extraordinário da Eucaristia – meu pai, o poeta e Professor
José Valdivino de Carvalho e, concomitantemente, com um agnóstico, marxista,
pertencente ao Partido Comunista Brasileiro dos 13 aos 82 anos, quando partiu
para a eternidade – meu muito estimado irmão, Tarcísio Leitão, Advogado
trabalhista e político.
Nessa longa e
agradável convivência, nunca os vi em agressão recíproca. Divergiam rindo, cada
um mostrando num sorriso franco, a largueza de seus corações, patenteando o
crédito em suas convicções de maneira polida, educada, amorosa. Assim, a
tolerância me é tão natural e necessária, como o enchimento de ar nos meus
pulmões, e condição sine qua non,
para uma existência harmoniosa.
Hoje,
infelizmente, há além do abismo social que há séculos separa as pessoas deste
majestoso país, o abismo político-ideológico que exacerba um maniqueísmo
doentio e afasta bolsonaristas, dos antibolsonaristas.
Eu queria
tanto diminuir essa divisão infrutífera, essa bipartição ideológica inútil,
pelo menos, entre pessoas que têm uma mínima admiração à equanimidade. Afinal
de contas, Aristóteles tinha razão: Virtus in medium est.
E para tanto,
iniciaria fazendo um exercício de lógica, de racionalidade, de procura pela
verdade, para quem sabe, sob a égide do Divino Espírito Santo, cuja festa
celebramos há pouco, entendermos a irracionalidade de defender-se um cidadão
que demonstra muito pouco de humano, antípoda do maior Mandamento de Jesus – o
amai-vos uns aos outros!
Um ser que no
auge do sofrimento do povo brasileiro, responde com desdém: e daí, não sou
coveiro; que se dirige à sua colega de parlamento, afirmando
indelicadamente: não lhe estupro porque você é feia; que à indagação de
jornalista vocifera: cala a boca; que
cinicamente se diz contra a corrupção, mas afirmou: eu sonego, eu sonego
tudo o que puder; que insensivelmente
diz ter tido 4 filhos homens e que num descuido nasceu-lhe uma filha,
numa misoginia odienta e cruel! Que transparece ter algum drama psicológico com
sua sexualidade face ao ódio que nutre pelos homossexuais; que afirma,
destituído de qualquer sentimento paterno, que rejeitaria um filho caso
descobrisse ser o mesmo, um homossexual; que estende seu ódio ao negro,
afirmando de maneira grotesca que em visita a um quilombo, constatou que
todos os negros são preguiçosos tanto que o mais leve pesava 7 arroubas (medida
para pesar gado), não fazem nada! Que galgando a posição máxima de mandatário da
Nação Brasileira, assina, como seu primeiro ato, indecorosa lei, liberando a
compra de armas, num país violento face à diferença social; que durante seus 28
anos, enquanto Deputado Federal, sequer, apresentou um único projeto; que diz
num comício vamos metralhar dez mil petralhas aqui no Pará; que
monstruosamente põe-se a favor da tortura, crime inaceitável para todos os
países signatários dos Direitos Humanos; que trai sua promessa de candidato,
aliando-se despudoradamente a políticos que ele mesmo julgava-os indignos de
sua convivência; que dificultou a indispensável vacinação contra o maldito
vírus da Covid-19, procedimento há 300 anos entendido, universalmente, como a
melhor maneira de prevenir as pandemias; que utiliza a desgastada teoria macartiana
do perigo do Comunismo, para desgastar as esquerdas, quando até a China se
volta para o Capitalismo.
Por tudo isso,
indago-me, como um cristão pode defendê-lo? Aceito, sem o menor laivo de
rancor, desprezo ou ódio, afirmando minha amizade e respeito às centenas de
bolsonaristas que me são caros, uma discussão franca, polida, desinteressada para
aclaramento do que julgo um grave erro.
Tenho dentre
preciosos amigos, e diletíssimos parentes, criaturas de alta sensibilidade,
alguns poetas, outros, líderes religiosos que dogmaticamente aceitam Bolsonaro
como a saída para o país. Não os desprezo, por isso, errare humanum est...
(Sophronius Eusebius Hieronymus - 347-419) e espero conviver pacificamente com
todos eles.
Assim, se o
obscurantismo impedir os que têm no Presidente, um ditador de dogmas de fé, de
enxergar o que eu enxergo, que sejamos suficientemente maduros para, pelo
menos, sabermos defender nossas posições no plano das discussões, sem ódio, com
a compaixão, tendo-se como arma, exclusivamente, a Palavra.
Apeguemo-nos à
virtude teologal da esperança.
Concordo com
Dostoiévski em Recordações da Casa dos Mortos: “o homem que não tiver um anseio
ou uma esperança acaba no desespero, virando um monstro”...
Por isso, acredito
que gregos e troianos saibam aceitar as posições contrárias, escolhendo o
debate livre, tranquilo, verdadeiro, para aclaramento das ideias e que nas
próximas eleições, saibamos eleger um humano que soerga este combalido gigante.
Convoco a intelectualidade
cearense, os “homens de boa vontade” a aprofundarem-se no estudo desta anomalia
política para que possamos, brevemente, juntarmo-nos numa grandiosa ciranda e
de mãos dadas dançarmos a dança da paz, do amor ao próximo, da esperança, do
engrandecimento deste país.
Post tenebras
spero lucem! Como diziam os romanos...
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